28.6.10

Já alucinou hoje?

As pessoas alucinam enquanto fazem arte. Poderíamos fazer uma lista dos maiores arteiros da história que nos encantaram ao expressar seus absurdos. Assistir alguns filmes é como envolver-se com o absurdo do outro, com a loucura que advém da imaginação daquele que produz cinema. 

Um filme brilhante não necessariamente pressupõe organização e tempo lógico em seu roteiro. Na falta de coerência há absurdos que podem ser desvendados a partir da escrita criativa, na qual o sujeito pode expressar seus enigmas e fantasmas.


Assistir “Quando Paris Alucina” | Paris - When it Sizzles | de 1964 é uma oportunidade para se envolver com o absurdo e com falas insanas e desconexas. É sair do concreto para entrar em contato com o que há de nonsense na imaginação humana. 

O diretor Richard Quine nos convida a conhecer um universo simbolizado a partir do encontro entre Mr. R. Benson | Willian Holden | e Gabrielle Simpson | Audrey Hepburn |, uma combinação sem igual. Este encontro se originou a partir de um desafio: Mr. Benson precisava entregar a redação de um filme que até o momento continha apenas o título: “A mulher que roubou a Torre Eiffell”. Tratava-se de idéias abstratas e sem forma que precisariam de um outro e um espaço criativo para se desenvolverem. Após várias semanas bebendo e divertindo-se, ele precisaria elaborar as 138 páginas prometidas a Alexander Meyerheim | Noel Coward | e o prazo limite para entrega era de apenas dois dias. Portanto, ele contratou Gabrielle, uma secretária, para ajudá-lo neste trabalho.


Como elaborar um roteiro em dois dias? Este trabalho seria realizado a partir da projeção dos conteúdos internos de Mr. Benson e de sua criatividade, seria uma oportunidade para apresentar na realidade externa os seus pensamentos livres, idéias e fantasias. Expressá-los seria desafiante, mas não tanto quanto organizá-los em tão pouco tempo. O verdadeiro desafio consistia na organização daqueles escritos. 
 
Conforme os pensamentos de Mr. Benson iam sendo ditos, Gabrielle não apenas digitava-os, mas era capaz de relacioná-los com os seus próprios conteúdos internos, trazendo questionamentos, dúvidas, ilustrações – abrindo novos horizontes e levando-os a pensar sobre as diferentes versões que a história poderia ter. Aquele espaço permitia-lhes explorar novas possibilidades e até mesmo criar uma realidade fictícia com personagens que representavam o lugar de seus desejos. Portanto, são os pensamentos de Mr. Benson e Gabrielle que nos direcionam para uma situação fantasiosa e nos impactam com a possibilidade de novas surpresas.


A casa de Mr. Benson transformou-se num espaço potencial que favorecia a expressão da criatividade e foi no encontro com a Gabrielle que este setting se instaurou. Ao elaborar aquela redação, eles buscavam uma oportunidade para poder brincar. D. W. Winnicott nos apresenta que o brincar consiste na relação entre conteúdos internos com a realidade externa a partir de um espaço criativo que permita a expressão livre do sujeito. No brincar há uma constante relação com o inesperado, na qual é possível acessar conteúdos inconscientes e lidar com angústias e conflitos narcísicos que advém na brincadeira.


O roteiro daquela história não seria desenvolvido da mesma forma caso eles se pautassem em normas e proibições. Assim como o brincar não ocorreria se suas realidades internas fossem assustadoras. O brincar se relaciona com a produção de um viver criativo e com a capacidade de sentir que a vida pode ser usada e enriquecida. No brincar entre Gabrielle e Mr. Benson o conhecimento do outro potencializaria um novo laço, uma paixão capaz de colorir as suas vidas de um modo diferenciado.
 

Por tratar-se de um viver criativo, o brincar ocorre conforme o querer do sujeito: a fala, as expressões corporais, os sonhos e a arte são maneiras de encontrar significado para a existência humana. Logo, podemos pensar na angústia daquele que não brinca. Atualmente, as necessidades e regras sociais  minimizam as possibilidades de criação, conduzindo o sujeito a ações repetitivas, mecânicas e esteriotipadas. Para lidar com esta rigidez é necessário permitir-se ousar a partir da iniciativa em elaborar algo novo. É válido “alucinar-se” de algum modo. O brincar é uma oportunidade para um novo conhecimento de si que conduz o sujeito a sair do lugar comum. Portanto, observem que quando Paris alucina, há conflitos, anseios, pensamentos e idéias que se expressam e colorem o cotidiano daqueles que brincam.

Renato Oliveira

25 comentários:

Ábia Costa disse...

Oi Renato,estou bem.
Vc sempre gentil, precisas vir à Belém conhecer um pouco de nossa cultura,e assim poderíamos ir à Praça da República num domingo qualquer se deixar ser levados pelo arrastão do Pavulagem, o convite está feito, e espero que logo aceito.

Mais um filme da Audrey heim?! eu realmente preciso assistir algum filme dela para matar minha curiosidade, e este parece ser muito interessante, aliás todos os filmes dos quais vc escreve são interessantes,rs. ADORO ler suas análises, me fazem prestar mais atenção no que vejo.

Obrigada por sempre ler minhas bobagens em meu blog, adoro quando vc aparece por lá *-*

PS: é Dostoiévski,rsrs...qnd ver Kafka lembra de mim tbm,rsrs...

mil bjinhus

Marcia Freddy disse...

Olá!

Visito o blog em busca do novo e me deparo justamente com ele.

Esse filme possui uma perspectiva muito interessante em termo cinematográfico. - representa "o novo".

- vendo por esse lado - realmente o torna interessante.

curiosa abordagem. =D

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Aproveitando o momento....

Assim que o artigo estiver pronto você me envia um e-mail avisando. Ok?

Gostaria de fechar com chave de ouro

- sim, estou encerrando as minhas atividades na crítica de cinema. - pelo menos por tempo indeterminado.

De qualquer forma, antes de dizer adeus gostaria de ter o seu texto publicado. - não precisa ter pressa obviamente.

Apenas quero mostrar pra mim mesma que apesar de tudo valeu apena.

Obrigada por tudo! MESMO!!

Sucesso!!!

E que honra ter conhecido você!!!

Passarei sempre por aqui!!!

Bjs!!!

Madalena disse...

seu blog eh legal..mas parece blog de menina...vc escreve com esencia de mulher e os textos tao longos demais, reduza...
ate mais ae

Alan Raspante disse...

PS: Será a mesma Madalena que anda atacando meu blog ? Hein Dona Mada ? Sossega o faxo fia, deus é mais! rs
Desculpa, mas tive que falar isso ao ler o comentário acima.

Ainda não vi esse filme, mas tendo uma história interessante e Audrey Hepburn merece ser visto!
Ótima resenha, cara!

Isadora Beatriz disse...

Aeeee Audrey <3
Ainda não vi esse filme, mas adorei o que você escreveu sobre. Ontem eu assisti "a princesa e o plebeu" amei, amei. Baixei "Um caminho pra dois" quando tiver tempo eu assisto e depois baixo esse.

A audrey é demais, sem igual mesmo.
ótima resenha (:

Valéria lima disse...

Olá Renato,
Penso igual a você, acho também que as pessoas alucinam fazendo arte, assim como nos deixa aluciandos. Quando vou à uma exposição fico eufórica com a imaginação dos artista é bem isso, assim como em alguns filmes.

BeijooO'

Mulher de Fases disse...

Recomendação:5 minutos de loucura por dia...ou quem sabe 10...
Abços

Anônimo disse...

Foi ótimo isso Renato!
Alucinar realmente é preciso para viver!

Évelyn Smith disse...

Olá Renato,

Pois é, consegui passar em tudo, até em Fisiologia que eu não fui muito bem pois tenho dificuldades com "decorebas" sobre o corpo humano... Rsrs...

Bom, no quarto semestre não vou ter matérias tão prazerosas novamente... Mas acho que melhorou um pouco: terei Sócio-Interacionsita do Vygotsky, Psicologia Escolar do insano do Piaget, Psicologia Comportamental com todas aquelas teorias e práticas idiotas do Comportamentalismo, Avaliação da Inteligência que parece ser bem interessante, infelizmente mais "decoreba" com Neurofisiologia e, sim, a matéria que eu mais gosto que é Psicologia Social, e que vamos dar continuidade com Temas em Psicologia Social.

E você, quais matérias está tendo no seu curso, no caso, no seu semestre? Em qual instituição você estuda? Como é o ensino em SP?
Rsrs, quantas perguntas, não...

Tudo de bom pra você e até breve!
=)

Beijos,
Évelyn

Anônimo disse...

Nossa eu adorei o que vc disse sobre o filme!

Aliais, fazia muito tempo que nao vinha por aqui!
Gostei das mudanças e das novidades!
Alucinar sempre!!

Erica Vittorazzi disse...

Renato, você está escrevendo a cada dia melhor. Lendo o texto, veio a minha memória uma cena na faculdade. Eu tinha aula de artes (sim, artes: pintura, argila e teatro)e em uma destas aulas que líamos Freud analisando Da vinci, o professor pediu para que desenhássemos um sonho. Eu fiz, uma rabisquiera só e ele perguntou:- O que é isto? E eu respondi: - Meu sonho visto por quem não sonhou.

Assim também é a terapia e as interpretações de sonho e brincadeiras: Uma infinidade de caminhos e possibilidades que só nós, neuróticos, capazes de simbolizar temos. O seu texto deixou isto bem claro, super fácil de entender até para os nãos psis.

beijos, Rê
sou sua fã!!!

Cida disse...

Olá Renato!

Obrigada pela visitinha ao mosaicos.

Também sou fã da Audrey, e já assisti a todos os seus filmes, e alguns, como: Sabrina, e A Princesa e o Plebeu, até mais de uma vez.

Parabéns pelo seu espaço, voltarei com certeza.

Abraços

Cid@

PEDIGREE DO PEIXE disse...

Oi fio! este filme não conhecia. Mais um pra minha lista. Me identifiquei muito com esta análise. Aquele ditado que diz: "é nas brincadeiras que se dizem as verdades" , teve uma boa ilustração através de seu texto. Belo texto como sempre. Abraços

clara disse...

Renato ,

Se vc não assistiu , assista Patrick 1,5 , vale muito a pena.

Anônimo disse...

vou assistir.. depois volto pra conversarmos...

bj

M. disse...

Alucinar faz parte da vida. Uma das melhores maneiras é entrar em um curso de teatro, poder viver outras personas ajuda a entender o contexto das coisas. No caso do filme, as personagens cumpriram bem esse papel. Um grande abraço.

Insana disse...

Sou alucinada rs sou surtada sou insana.

bjs
insana

Dil Santos disse...

Oi Renato, tudo bem?
Menino, parece ser excelente esse tbm, assim como os demais que vc cita por aqui.
A alucinação por vez é preciso em nossas vidas, causa e muito heim? kkkkkkk
Menino, adorei o filme Mistérios da Carne, muito muito bom, rs
os mistérios são bons para serem solucionados heim? rs
Ai menino, brigado por ter votado em mim, se quiser fazer propaganda fique a vontade tá? rsrs
Abração menino

Anônimo disse...

tem presente pro seu blog lá no Pia Fraus; passa lá para pegar o Selo...
até

Juci Barros disse...

Genial... alucinante!
Beijos.

Franck disse...

Hj alucinei aqui no seu blog...Adorei os posts/textos/imagens...Voltarei com calma para degustar tudo por aqui!

Gorete . SoLua disse...

Excelente análise!

Doce beijo :)

Érica Ferro disse...

É como eu digo: há uma delícia em enlouquecer de vez em quando.

Adoro suas resenhas. São sempre bem escritas e nos fazem refletir sobre várias coisas.

Renato Oliveira disse...

Há duas fias que eu não consegui responder. . .

Isadora
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Ah, a "Princesa e o Plebeu" é lindo de morrer! preciso revê-lo, inclusive. . . e "Um caminho para dois" tem o roteiro que mais super amo, acho encantador a forma como é tratada o conflito do casal com o passar dos anos.

Clara
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Assisti "Patrick 1.5" por indicação tua. :)
Gostei muito! a história é bem bacana e conseguiram produzir algo diferente. Prá quem é de SP está em cartaz no Espaço Unibanco da Augusta. Corram lá! hehe

Tati disse...

Renatooo,vc mora no Rio de Janeiro?
Esta passando no Centro Cultural Banco do Brasil,várias seções dos melhores filmes de Audrey.
Ainda dá tempo de pegar algumas

10.07 (sábado)
15h – “My Fair Lady” de George Cukor
18h – “Guerra e Paz” de King Vidor

11.07 (domingo)
18h30 – “Quando Paris Alucina” !
=)