Pode parecer um tanto quanto clichê iniciar com um rostinho tão belo, não é mesmo?
Eu tenho os meus motivos. E argumentos? não sei.
Dirigido por Laetitia Colombani, "À la Folie Pas du tout" é o típico filme fofinho, mas digno de ser assistido, pensado e por que não criticado também?
Foi traduzido pelo pééééssimo título de "Bem me quer, mal me quer", desconsiderem essadroga proposição, pois basta transcorrer um pouco do filme que verás que o Mal me quer se evidencia quase que unanimamente.
Eu tenho os meus motivos. E argumentos? não sei.
Dirigido por Laetitia Colombani, "À la Folie Pas du tout" é o típico filme fofinho, mas digno de ser assistido, pensado e por que não criticado também?
Foi traduzido pelo pééééssimo título de "Bem me quer, mal me quer", desconsiderem essa
Pois bem, Audrey Tautou faz Angélique, a típica moça belinha, com seus delicados traços. Estuda artes plásticas, trabalha em um café e vivencia dias enamorados. Dr. Loïc (Samuel Le Bihan), um Cardiologista, é o objeto para o qual parte de sua libido destina-se, embora casado - impecilho pouco significativo, para ela. A sucessão de fatos é apresentada duas vezes, sob a ótica de Angélique e Loïc, respectivamente.
Onde encontra-se a graça nisso tudo? As falas não se coincidem.
Posso ser mais claro: esse outro ao qual Angélique dirige-se é conhecido apenas à ela. Seus intuitos, projetos, planos e elaborações mostram-se pouco coesos, porém incisivos e repetitivos. Seria Loïc expressão de tamanha indiferença? Não, fia. é que ele nunca a conheceu. Pronto, falei.
Camuflado à cores tão vivas, botões de rosas e imagens contrastivas, "A La Folie pas du Tout" mostra-nos características relativas à Estrutura Psicótica, com um "ar despsicotizado" diria.
Em 1911, no estudo do Caso Schreber, Freud elucida conceitos fundamentais para a compreensão da problemática entre o sujeito e a realidade externa, assim como a hipótese de um Narcisismo Secundário e à Megalomanização do eu.
A Psicose pode ser identificada pela idéia de recusa.
Na infância, a criança depara-se frente à percepções aflitivas, intoleráveis... há enigmas que precisam ser elaborados, para tanto, a fantasia desempenha seu principal papel. Assim, a fantasia é estruturante ao sujeito. A fase edípica carece destas elaborações, pois os fragmentos da realidade gradualmente devem ser construídos.
E a Angélique?
Seu delírio era uma tentativa de reelaboração, portanto, de cura. Um modo de dar conta desta recusa que, na mais tenra infância fora vivenciada.
Ao desencadear um sintoma psicótico, o ego, após ter-se afastado da realidade, busca reparar este dano, criando assim uma realidade que não levante as mesmas dificuldades.
E o assunto vai longe. Mas para não atrasar o café da tarde de vocês, tenho apenas algo a acrescentar.
Os aspectos relativos à fala jamais podem ser negligenciados! A fala deve manter-se. Pois é por meio dela que se evidenciará o conflito, a qual aponta para a lei, à castração. O que me faz pensar em Lacan, quando diz que "o delírio é uma fala necessária que faz sofrer". {alguém lembra o ano?}
Não assistiu? fiaaaa... dê um grito para cinefreud@rocketmail.com que posso disponibilizar à ti os links para download.
Super agradeço o incentivo e carinho já recebidos.
Até breve, queridos!
Renato Oliveira
Em 1911, no estudo do Caso Schreber, Freud elucida conceitos fundamentais para a compreensão da problemática entre o sujeito e a realidade externa, assim como a hipótese de um Narcisismo Secundário e à Megalomanização do eu.
A Psicose pode ser identificada pela idéia de recusa.
Na infância, a criança depara-se frente à percepções aflitivas, intoleráveis... há enigmas que precisam ser elaborados, para tanto, a fantasia desempenha seu principal papel. Assim, a fantasia é estruturante ao sujeito. A fase edípica carece destas elaborações, pois os fragmentos da realidade gradualmente devem ser construídos.
E a Angélique?
Seu delírio era uma tentativa de reelaboração, portanto, de cura. Um modo de dar conta desta recusa que, na mais tenra infância fora vivenciada.
Ao desencadear um sintoma psicótico, o ego, após ter-se afastado da realidade, busca reparar este dano, criando assim uma realidade que não levante as mesmas dificuldades.
E o assunto vai longe. Mas para não atrasar o café da tarde de vocês, tenho apenas algo a acrescentar.
Os aspectos relativos à fala jamais podem ser negligenciados! A fala deve manter-se. Pois é por meio dela que se evidenciará o conflito, a qual aponta para a lei, à castração. O que me faz pensar em Lacan, quando diz que "o delírio é uma fala necessária que faz sofrer". {alguém lembra o ano?}
Não assistiu? fiaaaa... dê um grito para cinefreud@rocketmail.com que posso disponibilizar à ti os links para download.
Super agradeço o incentivo e carinho já recebidos.
Até breve, queridos!
Renato Oliveira
12 comentários:
Quero o link: ckubis@gmail.com
Renato,
Seria a personagem mesmo psicótica?
Ou o objeto a dela, Dr. Loic, seria uma fantasia, apenas?
O psicótico não se pauta na realidade...
Fica a questão. Vou ver se assisto o filme e posso discutir melhor.
Abs!
Oi, Vanessa. :)
Eu pensei muito nesse detalhe, pois, baseando-se apenas na fantasia, muito provavelmente seria um retrato de uma Neurose e não, uma Psicose.
Porém, com base nos diálogos de Angélique e no roteiro que ela mesma construiu para aproximar-se de Loïc é possível fazer essa distinção, pois o sintoma é apresentado como elaboração e não como fuga.
Há um comprometimento também de sua relação com a lei, ao assistir, verás que ela burla determinadas regras sociais, e assim faz de modo bastante sutíl, talvez, até sem percebê-los.
No final, seu caso é descrito como Erotomania [?]rs enfim, logo continuaremos a discussão então. Um abraço!
Eu adorei o filme, vi há uns dois anos atrás, ou mais. Porém, adorei. E olha que eu não dava nada por ele, mas é um roteiro interessante, surpreende mesmo.
Adicionei, chuchu.
Olá! Antes de mais nada obrigada pela visita, volte sempre.
Adorei tudo o que vi por aqui até agora, exceto uma coisa: Criatura! Como assim você contou o filme???? Ainda bem que eu já tinha visto, mas o que eu faço agora? Queria voltar, mas e se esbarro com o final de um filme que eu não vi? Não vou suportar! ;oP
Pensemos num jeito para isso.
beijos!
Hahaha
Lili, tens razão! mas olha, dessa vez foi intencional mesmo... um tanto quanto sádico!
Nos próximos posts, irei me conter, juro. :D
Renato!
Não vi o filme mas está bárbara tua crônica. E vindo de ti. tudo que comentou acrescentou, clareou outros "apagões" da minha mente.
Neurose-Psicose. Quanta caminhada.
Avanti!!!
ÉR isso aí!
FREUD disse na INTERPRETAçÕES dos Sonhos
"Quem não diz o quem tem vontade sem perigo coloca uma toca de bobo"!
Parabéns pela linguagem única e tão bem condensada.
Abraço
Cenira
Posso dizer que adoro esse filme (por que gosto mesmo), ainda sim ia soar clichê...Quando tiver mais tempo prometo retribuir seus elogios de outra forma.
Bom final de semana!
ps: também gostei do seu espaço...
Menino, teu blog é mto bom!! Ahhh...fala mais um pouquinho sobre a psicose aí...sempre tenho dúvidas quanto a distinção.
excelente este filme!!!!!
Esse filme é excelente e adorei o que escreveu sobre ele. Como sempre, muito bom.
E sim, foi muito sádico ter contado o final!
hahahaha
beijo
Olá, quero o link! amanda-pope@hotmail.com
obrigada!
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