13.5.10

O outro que você não vê

Há filmes que são mais fáceis de serem esquecidos do que outros. Há pessoas que também são mais fáceis de serem esquecidas do que aquelas que empreendemos força para esquecê-las. Eu nunca me esqueço deste filme, posso dizer que sempre que vi, sempre gostei. “84 Charing Cross Road” foi dirigido em 1987 por David H. Jones e foi traduzido por ‘Nunca te vi, sempre te amei’. Eu adorei esta tradução (rs) algo que é muito raro acontecer.


Bom humor e espontaneidade são características marcantes das correspondências entre Helene | Anne Bancroft | e Frank | Anthony Hopkins |. A indignação de Helene por não encontrar em Nova York (NY) os livros que gostaria a conduziu à uma estratégia nova: ela escreve à uma livraria na Inglaterra cogitando a possibilidade de encontrar estas obras raras. Esta iniciativa a conduziu ao conhecimento de Frank e dos demais funcionários da livraria 84 Charing cross road. 


Enquanto Helene vivenciava seus dias na agitada NY, o cotidiano de Frank se restringia na administração da livraria e cuidar da esposa e filhas. De certo modo a monotonia e previsibilidade era-lhes algo comum. Embora suas falas não demonstrassem descontentamento pela rotina que levavam, certamente o encontro de um novo laço despertaria uma excitabilidade à suas vidas. Este laço seria formado a partir das correspondências que indicavam o desejo de Helene e o lugar de Frank como aquele capaz de suprir uma demanda. Eles não se relacionavam com o outro real enquanto presença física, mas sim com o imaginário deste outro (imagem) que era construído a partir do simbólico – linguagem presente nas cartas. O constante fluxo de idas e vindas lhes possibilitou apreender este outro imaginário e impactar as suas vivências a partir da relação com o inesperado.


Com o passar dos anos as correspondências entre eles não mais se limitaram aos pedidos de livros. Havia um laço muito real e fidedigno entre Helene e Frank, uma amizade que venceu ao tempo e não se esgotou porque havia uma realidade compartilhada entre ambos que os fez sair do formal. Eles se permitiram ousar, cada um a seu modo. O diretor nos incita a pensar sobre a paixão que adveio por essas cartas e nos faz questionar se o almejado encontro entre ambos fortaleceria ou não este laço.


Eles precisavam do outro real? o outro consistia na imagem formada a partir da realidade psíquica de cada um deles e atualmente nas relações virtuais a dinâmica ocorre de modo parecido: por meio da fala do outro somos capazes de nos reconhecer no desejo deste. A linguagem sustenta o desejo e trás a excitabilidade à estas relações. Portanto, não há uma imagem verdeira ou falsa mas sim a imagem que construímos, a qual é singular e fidedigna aos nossos intentos. Assim, para Helene e Frank era fundamental se ver no discurso que o outro elaborava pois os faziam acreditar ser o desejo deste, sua completude. “Nunca te vi, sempre te amei” baseou-se na biografia de Helene Hanff e acima de tudo é a justificativa para o que há seis meses tenho dito: [porque] o desconhecido nos atrai.

Abraços,

Renato Oliveira

29 comentários:

Vanessa Souza disse...

Assisti há tempos. Nem lembro mais direito...

Como sempre, ótimo escrito.
Beijos.

Anônimo disse...

Nunca assisti. Nem tinha ouvido falar até você postar aqui. Verdade que fiquei curioso em assistir, gosto de filmes com essa temática.. parabéns pelo post muito bem elaborado.

Alan Raspante disse...

Mais um filme desconhecido para mim. A história parece ser muto bacana, vou procurar sobre ele ! xD
Ótimo post ! =)

Ábia Costa disse...

Oi Renato, estou bem sim...
aiiiiiii...estava com saudades de seus posts,e vc já vem me surpreendendo, nem acredito que vc escreveu sobre este filme, que eu sou simplesmente apaixonada, e sempre que posso o revejo, nossa! chega tô até emocionada..rsrs

mil bjinhus :*
e obrigada por deixar minha quinta mais feliz com este post maravilhos ;)

Unknown disse...

Ola Renato
Obrigado pela visita em meu blog e parabéns ao seu tb!
Abcs
Alexandre Taleb
Consultor de Imagem/Personal Stylist
Blog: http://ataleb.wordpress.com/

Dil Santos disse...

Oi Renato, tudo bem?
Gente, ama cinema né? Acho incrível isso,acredito que vc daria um ótimo crítico, rs.
Eu acho q já te falei de um filme chamado Uma Prova de Amor, foi o q mais m marcou, m fez chorar rios, rs.
Eu vivenciei uma experiência parecida, minha irmã teve câncer na mama e é algo difícil de se passar.
Obrigado Renato, acredito e tenho muita fé que Deus vai conceder esse milagre na vida dele e vai mostrar a todos o Seu poder.
Abraços querido
:)

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS) disse...

Há filmes que nunca me interessei por eles, mas ao ler a tua explanação a respeito, morro de curiosidade! Isso é que é ser bom no que faz, viu?
Bjkas, meu querido!
Acompanhe as atualizações dos meus blogs aqui:
http://blogsdasoniasilvino.blogspot.com

MARCOS DHOTTA disse...

...Que resgate maravilhoso! Fomentou minha vontade de rever esse filme. Pura sensibilidade!

Anônimo disse...

Oi Renato...,

Adorei essa crítica. Eu diria, foi exata, do "tamanho" certo para esse filme.

Beijos e bom final de semana,

Érica Ferro disse...

Ah!
Me parece um ótimo filme.

E olha, às vezes acho que esse não conhecer, não tocar é o que nos faz amar.
Talvez ame-se mais o mistério, o imaginário, do que o que é real, palpável...

Erica Vittorazzi disse...

Como assim é raro isto acontecer Renato? 'Nunca te vi , sempre te amei' acontece o tempo todo... Nosso, querido mestre (não Jesus, Lacan) já falava: 'AMAR É DAR AQUILO QUE NÃO SE TEM ÀQUELE QUE NÃO O É'.

O imaginário sempre estará presente nas relações, excetos com os psicóticos (por isto sempre me pergunto, se eles amam realmente, mas deixa isto para lá). Por isto as palavras são perigosas, estes significantes malditos...

Ah, Renato... amo este filme. E eu te amo também, apesar de não ter te visto (só para vc saber que isto acontece). Acho que a clínica só tem isto, aliás...


beijos, mil

Renato Oliveira disse...

É raro acontecer = eu gostar de alguma tradução de título de filme. ;)

Anônimo disse...

Não preciso nem dizer!! Muito curiosa essa sua resenha!

O mesmo me despertou bastante interesse!!

Parabêns!

Anônimo disse...

Não preciso nem dizer!! Muito curiosa essa sua resenha!

O mesmo me despertou bastante interesse!!

Parabêns!

O+* disse...

Este outro virtual, sem cheiros, sem tiques...feito só de discurso...como nos encontramos com eles por aqui diarimanete...sou apaixonada por vários...vc é um deles

bjs

Nathália Azevedo disse...

Seu blog é um verdadeiro acervo de coisas maravilhosas a se descobrir!
Mais um filme que eu ainda não assisti e que, pelas suas palavras, não pode me trazer coisa de maravilhosa pra baixo! ;D

~*

Aproveitando, meu blog "O Óbvio Utópico" está concorrendo ao Prêmio "The Best GB 2010", realizado pela Gazeta dos Blogueiros, se não for incômodo, você poderia dar o seu voto?

Link: http://migre.me/Fox0

Obrigada! *_*



http://o-obvio-utopico.blogspot.com/

Anônimo disse...

Elenco maravilhoso,
vê se não some ein.

um beijo!

Valéria lima disse...

Nunca vi o filme, o título é lindo. Concordo quando diz que o desconhecido nos atrai.Gostei de verdade!

BeijooO'

Deia disse...

Oi Renato! O paladar, assim como nosso olhar, precisa ser apurado... colocamos tanto chantily no sorvete que, ao comê-lo, não sentimos gosto de nada...

Fiquei feliz em encontrar mais um apreciador do bom chá - sem açúcar, é claro! Obrigada pela visita!

"Nunca te vi, sempre te amei" - Sabe que não me lembro de tê-lo assistido? Fica aqui uma recomendação: A Sanzinha escreve, há dois posts, sobre o hábito, há muito perdido, de escrevermos cartas. Acho que você vai gostar! o endereço dela é: http://jardimdasan.blogspot.com

Gostei muito do seu blog! Um beijo, Deia

Hugo Dorta disse...

Oi, Adorei o blog! Ah esse filme deve ser Bom!
Estou te seguindo aqui!
Grande abraço @huguenho

Me permita disse...

Oi, meu caro! Obrigado pela visita e pelo prazer de conhecer este teu espaço aconchegante e inteligente! Adoro filmes e há tempos quis assistir esse filme em particular e não tive oportunidade... valeu a dica e a lembrança! Volte mais vzs! Abraços!

M. disse...

Oi Renato,

Seu blog é muito original gostei muito dele. Vou me tornar seguidora, ok? Obrigada pela visita ao SALA LATINA DE CINEMA. Um abraço.

Anônimo disse...

ijos gentis...
gostei daqui...
vou te seguir...
Leca

Ilaine disse...

Oi, Renato!
Há quanto tempo que não nos visitávamos, não é? Fiquei muito feliz. Pois, vim aqui fazer uns laços e pontos neste maravilhoso tricô.

Adorei a sua resenha. Infelizmente não vi o filme. Mas você me deixou muito curiosa. Procurarei assistir. Sim, há pessoas, filmes e livros em nossas vidas, dos quais nunca nos esqueceremos. Sempre, em algum lugar, haverá algo que nos fará deles lembrar.

O seu blog está lindo demais.
Beijo

Mariana Anconi disse...

Ola Renato!
Confesso que seu texto me estimulou a assistir o filme em questão. Gostei quando falaste "por meio da fala do outro somos capazes de nos reconhecer no desejo deste" e isso me lembra também o que Freud nos ensinou sobre o nacisismo e Lacan sobre o amor imaginário (especular) - amo no outro aquilo que é meu...
Adoro seu blog!

Beijos!

Juci Barros disse...

Nossa, o desconhecido é um sedutor de primeira!

Obs: Lançei lá no blog uma proposta literária e gostaria de contar com sua participação no "roteiro" Renato.
Beijos.

Isadora Beatriz disse...

Nunca assisti, mas é obvio do jeito que eu sou vou baixar com toda a certeza! Eu não sei o que é, mas eu não gosto de Anthony Hopkins, sei lá, ele me deixou com medo depois de Hannibal. Sou medrosa demias :x O rosto dele ainda me deixa tensa, USHAUASHUHASUHUSA a louca.

Enfim, adorei o blog! Filmes é comigo mesmo, amo demais. Correndo para ler o post sobre 'Sabrina'.

bjs, isa.

Ana SSK disse...

Bem legal teu espaço também!
Bem-vindo ao significantess.blogspot.com.
Um abraço!

Gorete . SoLua disse...

Excelente resenha!

Doce beijo :)