Buscamos uma nova tendência. Estamos em 1957 e se faz necessário criar uma nova e explêndida imagem para que a mulher americana se identifique. Eram estes os burburinhos que agitavam o cotidiano da Quality Magazine. Maggie | Kay Thompson | precisava encontrar uma idéia fantástica e inovadora que não só fizesse a cabeça das fias, mas que colocasse em destaque todo o trabalho da revista.
Fotografia, moda, cores, figurino: parece tratar-se aqui de um texto sobre estilo, mas não, ainda continuamos na psicanálise. Contudo, são estas referências que dão o tom no início de Cinderela em Paris | Funny Face – 1957 |. O diretor Stanley Donen esteve todo equipado em destacar o encanto de uma produtora fotográfica em um super musical.
Foi a busca por algo inovador que conduziu Maggie e suas fias secretárias a um estoque de livros usados. Era preciso inspirar-se de outro modo, e os habituais settings de fotografias não atendiam a este objetivo. Foi a partir da proposta think pink que Maggie e toda a produção da Quality Magazine se empenharam para localizar a mulher que representaria a campanha da empresa (marca). Ao realizar as primeiras fotos naquela livraria, o fotógrafo Dick Avery | Fred Astaire | teve sua atenção movida para outro foco: não foi a modelo, nem sequer a decoração local que o atraiu, mas sim a vendedora de livros Jo Stockton | Audrey Hepburn | uma figura exótica, excêntrica e agressivamente adorável que não aprovava toda aquela parafernália que ali faziam. Foi este encontro que conduziria Jo a um universo maior e que a faria ser conhecida por sua funny face, um rostinho cômico que despertou interesses em Dick e Maggie.
Moda, maquiagens, produção e desfiles não eram significativos para Jo. Após toda a desarrumação deixada pela equipe de Maggie, ela dirigiu-se a Dick mostrando a sua insatisfação com este mundo de vestidos tolos em mulheres tolas, e logo lhe sugere: fotografe árvores! Jo lhe apresenta que a vida poderia ser vista de outro modo quando olhada a partir da Teoria da Empatia do professor Emile Flostre, que consistia em projetar a imaginação de modo a sentir-se próximo do que se sente. Esta visão vai além do propósito de colocar-se no lugar do outro, pois consiste em ser despertado no mundo a partir da ótica de um ser além de si. Esta teoria se fundamentava na obtenção de paz por meio da compreensão, sendo tais verdades que traziam significado à existência de Jo.
Uma existência em transformação. Lembram-se da busca pela garota Quality Magazine? Pois bem, Dick convenceu Maggie de que Jo seria a candidata perfeita! Trazê-la até a produção da revista já requeriu toda uma estratégia, e convencê-la a aceitar a proposta? Foi desafiante, mas aconteceu. Um meio para atingir um fim: foi esta noção que fez com que Jo aceitasse representar este papel, pois assim, Paris seria o seu próximo destino e a aproximaria do seu sonho de ouvir uma palestra do prof. Flostre. Pois bem, ela embarcou na viagem que daria um novo compasso a toda rotina de sua vida.
Encante-se e cante juntamente com Jo, Dick e Maggie na chegada a uma das capitais mais belas do mundo! Dentre música, coreografia e fotos nos aproximamos de significados não completamente explícitos no filme. Conforme havia dito, Jo não foi a Paris apenas para ser fotografada e desfilar, ela foi ao encontro de uma verdadeira descoberta de si e do outro. A Teoria da Empatia seria, de fato, aprendida e apreendida simultaneamente. Durante as fotos, Jo foi colocada em vários contextos e orientada a representar diferentes papéis afim de que fosse possível transmitir ao outro a possibilidade de se ver projetado naquela situação presente. Dentre outras situações, ela se encontrava em um vestido de noiva e deveria mostrar-se enquanto uma mulher realizada no dia mais feliz de sua vida. Ela não conseguiu. Jo diz sentir-se desonesta neste papel, ela não era capaz de sentir-se realizada como noiva. A Teoria da Empatia deveria ser também apreendida por ela. Seria preciso envolver-se com significados de um outro para compreender a partir da ótica dele. Logo, Paris apresentou-se como uma escola, na qual, as personagens, o brilho e os enganos lhe ensinariam as mais valiosas lições de sua vida.
Deste modo, fica-nos a questão: o que a mulher quality representaria? Como pensar a Teoria da Empatia hoje, numa cultura e mundo em que tudo tendencia a um ritmo de agitação e imprevisibilidade? É válido ressaltar que olhar a partir da ótica do outro não consiste simplesmente em entender a dor alheia, mas diz respeito a um conhecimento de si que capacite o sujeito a projetar-se numa figura externa, possibilitando-o compreender uma situação mediante uma nova ótica. A empatia envolve projeção e identificação. No encontro de características pessoais no outro é que laços podem se formar a partir de identificações que o sujeito estabelece. São as identificações do sujeito que consolidam a sua existência e o fazem encontrar significados para o seu cotidiano. De acordo com Jo, a teoria da empatia implica sempre uma compreensão. Assim, podemos constatar que a mulher Quality Magazine representaria aquela que foi atraída por um saber desconhecido e que neste processo imprimiu marcas da Teoria da Empatia em si própria, permitindo influenciar-se e envolver-se com os conhecimentos de um outro significativo.
Abraços à todos,
Renato Oliveira
22 comentários:
Invejo, sem remorço, a moda de antigamente, mas acho que as mulheres de hoje, nem ao menos em belos vestidos, seriam iguais. Não se fazem homens e mulheres, pessoas em geral, como antes.
Audrey Hepbunr, no meu olhar, é a face mais bela que a sétima arte que nos apresentou.
Olá caríssimo Renato! Saudades!
Pois é, com o tempo a gente não discute... Temos que priorizar algumas coisas mesmo.
Também não suporto calor, amo os dias frios. Em Brasília é muito seco, logo faz mais calor. Mas tem um friozinho massa às vezes por aqui.
Estou quaseee entrando de férias! A minha última prova foi na quinta, de Avaliação da Inteligência. Creio que consegui passar em tudo sem exame e agora é só esperar pelo restante das notas na próxima semana! Tenho certeza de que você vai entrar logo, logo de férias também e deve ter tirado 10 em todas as suas provas! Rsrs...
O filme, joguei no Google e encontrei, é um filme daquele diretor que você gosta, o Todd Solondz: "A Vida Durante a Guerra".
Vou fazer a tag sim, ainda mais depois daquela super explicação. Nossa, você foi muito gentil! Obrigada pela sua boa vontade!
Sim, depois me conte essas coisas em off... Quero saber.
Tudo de bom pra você e até mais ver, querido!
Beijo,
Évelyn
OBS.: Amei a resenha, como todas as outras! Principalmente da Teoria da Empatia. Gostei dessa explicação, achei diferente, embora eu tenha entendido de acordo com o contexto que eu já sabia anteriormente. =)
Oi Renato!!!! Eu também estou naquela velha correria de fim de ano, mas não de compras e outras tolices.
É de trabalho mesmo que estou falando. Eu entendo perfeitamente o seu lado, já passei por isso e sei que ainda vou passar, porque pretendo me dedicar aos meus projetos de estudo atualmente.
Quanto ao filme amei a análise. E concordo com a Gabriela que fez o primeiro comentário. Também gosto da fotografia da película!
Um abraço,
M.
Olá!! (Respondendo ao seu comentario no meu blog) Você estava sumido sim...hehehe, mas que bom que voltou! Adorei tb a dica de rastrear nossas compras pelo twitter! Um amigo meu que sempre compra coisas pela internet que descobriu e eu na horaaaa tratei de dividir a dica no blog, hehehe.
(Sobre o post) Adoreiiii a sua análise desse filme, como adoro todas, hehehe. O que vejo em relação aos dias de hoje é que todos possuem mais opções seja de atitudes, comportamento, tendências..são tantass opções que quem não tem uma personalidade mais forte, acaba se perdendo no meio de tantas escolhas..
Abraçossssss!!!
Gostaria de ter vivido outras épocas e ter sido contemporaneo dessas divas...
Abçs*
Renato...
Identifiquei-me com a Teoria da Empatia e ainda mais profundamente com Jo. Isso me trouxe sentidos pessoais novos! Amei! :)
Abraço,
Paula.
E vamos confiar na IMAGINAÇÃO!
Bem antigo, um clássico.
Deve ser ótimo, com certeza.
BeijooO*
Oi...
Passei só pra te dizer que tem um selo pra você no UM FILME POR DIA.
Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
Como a Audrey é linda, não? Perfeita!!
Ai Renato, estou em uma fase sei lá, estranha e lendo isto agora, estou pensando: será que existe empatia mesmo? É tão dificil sairmos da nosso posição de equilíbrio e conforto e tentar chegar ao outro e ver sobre a sua ótica, saber de suas dores.
É isto que fazemos não? Ou tentamos. Os psis. Traduzimos a ótica do outro com teorias e racionalização, mas isto não significa identificação. Onde está a empatia, Dr.?
Me responda por face...hehe.
beijos, Re!!
Adorei a sua analise (: Amo Cinderela em Paris e por incrível que pareça eu vi o filme ontem, de novo. Amo a Audrey Hepburn, nunca vi uma atriz com tamanho talento. Maravilhosa.
Beijos, Isa (:
Ah, eu aproveitando para perguntar onde voce baixa os filmes dela? Eu sou doida pra assistir a A Herdeira só que nunca encontro, além é claro de outros filmes super dificeis. Enfim, se souber me avisa (:
Oi Renato, tudo bem?
Menino, adoro filme com temática do mundo da moda, acho fascinante, rs.
Então leia menino, pq é fantástico, depois indico mais alguns, rs.
Desculpa ter demorado em vir aqui, mas nos últimos dias estou numa correria daquelas, rs.
Abraços menino
Fascinante interpretação sobre a Empatia neste universo fashionista que é "Funny Face". Sem dúvidas, você sabe como imprimir o seu estilo na escrita.
Keep the good work!
olà
fiz um blog novo e adoraria a sua presença por là
me siga por favor
www.amorimortall.blogspot.com
obrigado
beijos
Olá,
Renato,fascinante o enredo do filme descrito por ti, assim como os pontos de análise que exploras. Um excelente exercício de aprendizagem para mim,a leitura que apresentas da dramaturgia do filme.
Adorei a tese: "São as identificações do sujeito que consolidam a sua existência e o fazem encontrar significados para o seu cotidiano".
Renato, postei no meu blog, na rubrica "Um passeio na blogosfera" um texto sobre o Cine Freud, blog de importancia relevante para mim, de entre todos os que ja visitei até hoje. Um magnífico trabalho o teu.
Abraço!
Tão bom quanto assistir a grandes filmes é ler sobre eles. É uma experiência complementar bastante enriquecedora.
Parabéns pelo blog. Vou linká-lo. Apareça no meu. Aguardo você.
www.ofalcaomaltes.blogspot.com
Olá! Belo e interessante seu blog!
Eu sou fã de Audrey Hepburn, para mim ela é a melhor e mais bela atriz de todos os tempos. Sou apaixonada por aquele filme, Bonequinha de Luxo ( Guerra e Paz e lindo tb), agora vou ter que assistir este filme, Cinderela em Paris.
E muito bacana a Teoria da Empatia, que vc sabiamente explicitou. Viver e sentir pela ótica de outra pessoa. Parece que isto a faz mais humana e compreensiva. Estou certa?
Grande beijo e sempre apareça no meu blog
Olá,
Li sua postagem atual de passagem de ano e não entendi como fazer o comentário,então, consegui entrar neste texto.
Vc me orienta onde devo clicar para comentários.
sonia, abraços.
Convido a conhecer o blog de meu filho Ricardo.
http//guerrasepolítica.blogspot.com
Oi Renato!
Adorei sua analise do filme "Cinderela em Paris" com nossa querida musa Audrey Hepburn.
Ela não só foi uma grande atriz, ela simboliza o que há de belo no interior de uma grande mulher.
Volte sempre pra me visitar!:D
Beijos,
Elaine
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